terça-feira, 24 de novembro de 2009

UMA INTRODUÇÃO ÀS EPÍSTOLAS DE PEDRO

Para uma compreensão mais ampla dos textos de I e II Pedro, uma aproximação histórica e contextual é necessária. Para tanto estaremos lançando mão da pesquisa de alguns autores importantes no cenário teológico, que são: Raymond Brown, Alberto Antoniazzi, J. Konings, W. Krull, Helmut Koester e Oscar Cullmann. Compararemos suas pesquisas, questionamentos e conclusões sobre estas duas cartas. Trataremos então da autoria (autenticidade), da data, do local, dos destinatários e dos motivos que provavelmente levaram à escrita das mesmas.
Acerca dos motivos que levaram à autoria de I Pedro, os autores pesquisados concordam unanimemente que a motivação estava em orientar e encorajar, exortar e reforçar a convicção dos destinatários que estavam passando por sofrimento em relação à vida social e religiosa. Para Antoniazzi, “a carta de Pedro visa infundir esperança e perseverança nos leitores e reforçar neles o sentimento de que pertencem a uma grande família, à “casa” não de algum poderoso desta terra, mas do próprio Deus, ”pg 57.
Antoniazzi observa que o autor da carta de I Pedro se apresenta como o próprio Pedro (I Pe1.1), apóstolo de Jesus Cristo, o que Raymond Brown afirma ser uma evocação à autoridade apostólica de Pedro. Para Koester, a primeira epístola de Pedro possui uma característica paulina muito forte, advinda de Silvano (companheiro de Paulo), citado nas saudações finais .Na carta também consta um grego bastante culto, o que afasta a possibilidade de ter sido escrito por Pedro, que não possuía tal domínio do grego. Cullmann ainda mostra que não há na carta nenhuma lembrança pessoal de Pedro a respeito de Jesus, o que acaba por problematizar mais ainda possibilidade de Pedro ter sido o autor.
A data da obra está, segundo a maioria dos autores citados, no final do primeiro século, entre as décadas de 70 e 90. Konings sugere isso com base na afirmação de que nesta época, Pedro já era uma figura de grande prestígio em toda a igreja. Brown ainda levanta a possibilidade remota de que a carta possa ter sido escrita entre 60 e 63, no ano em que Pedro estava em Roma, mas a maior probabilidade é de que foi escrita entre 70 e 90, por razões como o uso da palavra “Babilônia” para referir-se a Roma, que só teria sentido após a década de 70, quando o templo de Jerusalém foi conquistado por Roma, o que nos reporta a uma data posterior à morte de Pedro.
Para Brown, a carta de I Pedro é destinada aos estrangeiros da dispersão do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia, o que nos levaria a crer em um escrito voltado somente para o público gentílico, porém, Brown mostra que ela foi direcionada também aos judeus-cristãos, por causa do conteúdo presente na carta que remonta sempre a historiografia de Israel em diversas analogias.
Sobre o local de onde a carta foi escrita, o próprio texto de I Pedro 5.13 menciona a localidade do remetente, “A que está em Babilônia”, como já mencionado, uma referência a Roma. Hoje, quase universalmente, esta carta é aceita como proveniente de Roma.
A respeito da segunda carta de Pedro, os autores comentam de maneira mais sucinta. Para Cullmann, é o último documento escrito do Novo Testamento, mesmo tendo sido aceita no Cânon antes de outros anteriores. Esta carta autodenomina-se de Pedro, pretendendo ser uma seqüência da primeira carta e foi escrita por volta de 150. Para ele, a o autor parece ser um cristão da Ásia Menor, visando com esta carta, advertir os leitores contra o gnosticismo. Para Brown, a carta de II Pedro foi escrita mais provavelmente no ano 130, com margem de erro de uma década para mais ou para menos, sendo posterior às de I Pedro, das cartas Paulinas e de Judas. Brown supõe que a carta foi escrita para um público de cristãos da Ásia Menor, que conhecia os escritos paulinos e I Pedro. Ele comenta que se trata de uma carta pseudônima pode ter sido escrita em Roma, sendo que Alexandria e Ásia Menor também teriam sido sugeridas.
É bom lembrar que Antoniazzi faz uma leitura das cartas de Pedro a partir da comunidade, enquanto que Brown lê as mesmas a partir de Pedro; sendo assim podemos constatar que a depender da perspectiva da leitura teremos interpretações diferentes de um mesmo texto.
Mesmo sendo uma carta que lida com o sofrimento do povo ela não tem caráter de conformismo, ou seja, ela não quer que seus leitores se conformem com as situações de sofrimento pelas quais estão passando, mas traz esperança para o povo, esperança esta que como diz Antoniazzi é uma esperança que apesar de nos voltar para o futuro e para as coisas que ainda não aconteceram, não nos tira as responsabilidades na sociedade. Estas cartas então nos lembram o nosso comprometimento, não nos acomodarmos com as injustiças, mas sermos testemunhas da esperança.
Por Márcia Lúcia Silveira Galvão

Um comentário:

  1. só pra corrigir...texto escrito por Márcia Lúcia Silveira Galvão...e não Gusmão como está aí...erros acontecem...rsrs...

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